sábado, 13 de novembro de 2010

Sou um clássico

Fabricado em 1988, quando já começavam a produzir os modelos mais modernos, fui feito no formato antigo. O Engenheiro me moldou, artesanalmente, para que eu fosse como um dos "antigos".

Ainda utilizando um carburador, sem essas coisas de chips, suscetíveis a qualquer tipo de alteração por parte de outros, tenho a mecânica complexa, só podendo sofrer mudanças pelas mãos do mesmo Engenheiro.

O motor é grande, como dos antigos, proporcionando maior força e velocidade. Não que eu viva com pressa, mas sou um daqueles que correm, despreocupados, pelo prazer de sentir o vento.

Não sou como esses modelos novos, que amassam por apenas encostar em uma parede. Fui feito com estrutura forte e carroceria dura, ótimo para passar por muros.

O que vejo, hoje em dia, é uma safra de modelos pequenos, afobados, que nem sabem o que é uma estrada de verdade. Contentam-se em correr, como baratas tontas, por essas ruas curtas. Com suas latarias coloridas, ficam por aí, sem destino.

Eu gosto de longas viagens. São mais difíceis. É onde o Engenheiro pega as peças gastas, ou, às vezes, quebradas, e as refaz, mais fortes que antes.

Rodo, suavemente, ao som de Jazz, Blues, Rock and Roll. Vou a paraísos inimagináveis, guiado pelo Motorista. Posso, em alguns momentos, parecer lento, mas é apenas minha forma de desfilar.

Tenho orgulho de ser assim. Embora a maioria esteja optando pelos mais modernos, somente quem merece e sabe apreciar, tem a felicidade de viajar comigo.

Fui feito para atender a exigências, não para viver de passeios sem direção certa. Fui feito para ser confortável, não para viver lotado. Não é qualquer "coisinha" que pode encostar nesse estofado.

Sei que serei chamado de velho, ultrapassado, antiquado. Mas, para quem importa, nunca deixarei de ser bom, diferente, único... clássico.

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